SER DO FUTURO

Vou vestir aquelas roupas, comprar coisas aos montes.

Oi! Quero que você me note. Estou aqui!

Não vou dizer muito se nos falarmos. Não espere muito.

Meu empenho se foi em copiar alguém e não descobrir caminho nenhum.

Tenho um celular moderno e me perfumo com mais de um salário mínimo.

Você vai me sentir logo, mas não devo lhe dizer muito.

Meu vocabulário só vai até aquelas cifras etiquetadas do que consumo. 

Vou dizer umas palavras da moda, porque sou gente de agora,

exibo um shape do momento e treino para um dia ser fecundo.

E ignore se minha moral e meu desejo estão em um passado medievo.

Eu estou aqui e quero parecer seguro, soar como um adulto. 

Eu quero que você me note, mesmo que dure só segundos.

Ainda que eu não saiba bem onde estou,

vale exibir o que tenho: o vazio e o desdém que possuo.

As vibes são positivas e estou interessado um pouco em tudo.

Estou bem ao seu alcance, postado, pensado e disponível.

E quero o mesmo que todos quiseram no passado:

vassalos, dinheiro, sucesso e privilégios mais obscuros.

Tirando isso que quero, o resto é um ser do futuro.

Poema de A serpente e os aventais de folhas de figueira.